segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um brinde a realidade e a filosofia...

 Lendo sobre Einstein, Aristóteles, Descartes, Voltaire e Rousseau, uma vontade enorme de escrever tomou conta de mim. Afinal, o que teriam de tão diferente esses homens, que viam claramente o futuro e o que ele iria se tornar, o que os fazia se tornar visionários de um mundo caótico o qual preveram com tamanha excelência e acerto?

 O que pensava Voltaire quando escrevia "O homem nasceu livre e por toda a parte vive acorrentado", ou Einstein quando disse "Tornou-se chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade"? Qual mundo Rousseau citava quando falou "Quanto mais do mundo vi, menos pude moldar-me à sua maneira" ou Descartes que havia dito que "Não há nada no mundo que esteja melhor repartido do que a razão: toda a gente está convencida de que a tem de sobra"? Seria o mundo onde "Todos os trabalhos pagos absorvem e degradam o espírito" de que falava Aristóteles?

 Acredito que quando o homem alcança um nível intelectual elevado, ele para e olha para dentro de si e reflete sobre toda sua história a ponto de arrepender-se de parte dela. Parece que a introspecção vem como item obrigatório do opcional "intelecto elevado", seguido dos também obrigatórios "crise pessoal", "depressão" e "inconformidade" com a realidade. O que esses homens perceberam que os deu tamanho conhecimento do mais profundo do ser humano a ponto de acertar em todas suas constatações sendo que viviam há muito tempo atrás?

 A filosofia - do grego Φιλοσοφία, literalmente amor à sabedoria - procura estudar todos problemas relacionados ao homem. Todos esses eram filósofos, com exceção de Einstein, e tinham um intelecto superior a grande massa, isso tudo é concordante e concreto. Sendo assim, seria a filosofia usada por um bom e inteligente filósofo um "manual de instruções" do homem?

 Quanto mais vejo as constatações de todos esses, mais me impressiono com o acerto e a atemporalidade que elas tem, o que torna o ser humano "óbvio". Seria então o ser humano, que todos dizem "incapaz de prever" ser tão previsível?! E se for, o que nos faz hoje em dia, centenas de anos depois não conseguir prevê-lo? Será que o nosso hoje em dia tão avançado e tão ambicioso tem nos feito cada vez mais cegos as realidades humanas, aos sentidos, as coisas intelectualmente previsíveis?!
 Nosso hoje em dia está se tornando, numa progressão incontida, uma virtualidade cada vez maior, seria talvez esse o fator que nos põe incapazes de prever o ser humano atual? Cada vez mais temos processos educacionais e formadores de consciência que fazem o indivíduo repetir e repetir informações, onde o resultado final é mais importante do que o processo para chegar ao mesmo, seria talvez o virtual, onde tudo se pode, o escape ou o real resultado disso? Segundo Voltaire "O homem nasceu livre e por toda parte vive acorrentado", há algo mais claro do que isso hoje em dia? Quantas pessoas vivem dependentes, viciadas, alienadas de tudo por não aguentarem a realidade, e quantas cada vez mais entram nesse círculo de correntes, ficando mais e mais presas a diversas dependências cotidianas e comportamentais.
 E Einstein? Será que ele previu o "facebook", as "redes sociais"? Sua frase "Tornou-se chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade" parece endereçada aos dias de hoje, onde vemos quase toda população viciada e dependente das tais redes sociais, onde o contato real cada vez fica menor e o virtual ocupa um espaço quase que obrigatório na vida das pessoas, acabando com todo o tempo que o homem tinha para pensar, refletir e questionar, hoje o que o homem quer são "respostas prontas".

 Onde estariam nossos Rosseau's que desacreditam da razão e escreveram os "Fundamentos da desigualdade entre o homem"? Onde estão as pessoas que falam "Quanto mais do mundo vi, menos pude moldar-me à sua maneira"?

 A frase de Descartes hoje em dia é uma alusão a ignorância do homem, que acredita ter a razão, mas somente acredita, fazendo-o um mentiroso para si mesmo, o que torna o homem mais fraco, fato que não precisa de muita análise para ser comprovado, é fácilmente constatado pela tamanha futilidade que nos cerca e pelo imenso jogo de interesses que virou a vida atual, o homem virou um ser imensamente inseguro por dentro e com uma protuberante casca de guerreiro por fora, a qual tão frágil quanto um cristal.

 Aristóteles teve razão, o que ele falou aconteceu exatamente como dito, o trabalho pago não só absorveu o espírito do homem como degradou o mundo, fazendo-o um poço de individualismo onde a compaixão é um sentimento estranho e a bondade já não reina há tempos.

 Tenho medo dos dias de hoje, se há tanto tempo atrás podia-se prever o homem, e ele já não tinha uma previsão favorável, talvez hoje a falta de previsão indique que o pior esperado possa ter já superado esse limite, o que não dá boas chances ao "homem moderno". Não consigo ver uma resistência ao sistema ou uma mudança positiva na nossa realidade, parece que cultuamos o passado e muitas de suas maravilhas como se fossem intocáveis ou incapazes de ser vividas novamente, mesmo no campo emocional do ser humano. Vivemos em um caos do qual preferimos nos tornar parte dele à resistir e lutar contra, como se não valesse a pena lutar pelo que se acredita, e entregar-se a ridicularidade dos dias de hoje fosse interessante. A progressão com que as pessoas vem se contentando com o pouco e cultuando-o como muito cada vez é maior, como se ouvir Mozart fosse um sacrifício, mas ouvir Restart fosse um prazer. Nossos ídolos parecem realmente ter ficado no passado, e nós não possuímos novos ídolos atuais compatíveis, como se a virtualização nos minimizasse o intelecto a ponto de aceitar "o que tem para hoje".

 Quanto mais vivo mais tenho medo da nossa realidade, procuro debatê-la e enfrentá-la, mas cada vez mais sinto me rodeado somente de uns poucos malucos dispostos: Voltaire, Einstein, Descartes, Aristóteles e Rousseau... Um brinde! A realidade e a filosofia...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Valores de uma geração

 Hoje venho falar sobre uma coisa que muito me preocupa, o valor que nossos colegas "nos dão". Vocês vão entender o "nos dão" em seguida...

 Uma profissão que eu admiro e pretendo seguir é a de diretor, quero trabalhar com cinema, vanglorio toda a magia e dramática que um filme nos dá, simples, direta e sincera. Mas como todas outras profissões, a profissão em sí não é uma profissão barata, muito menos os equipamentos para trabalhar com ela, e é aí que chego no ponto de hoje, "valores".
 O que mais vejo hoje em dia são produtoras independentes,  fruto de uma geração que tem o cinema digital mais acessível se comparado ao antigo, onde câmeras que filmam clipes, publicidade, curtas, hoje custam a média de 8 mil reais e tem a qualidade necessária para tal. Gosto disso, acredito que quanto mais as pessoas "normais" obtiverem acesso aos instrumentos de criação, mais será criado e mais as pessoas vão pensar, aprender ou ignorar, mas terão acesso a novas idéias, mesmo que absurdas! 
 Mas é nessa relação do novo cinema com a nossa velha arte que mora meu desejo de mudança, minha inquietação por causa da relação das pessoas que se dizem profissionais e atores, atrizes. Não acho justo uma pessoa que diz ser "diretor" de cinema, dono de produtora ou produtor, convidar atores para participar de seus filmes sem a menor remuneração, com o tal do: "Pagamos transporte e alimentação, mas nada de cachê!"... Um equipamento básico de produção, para uma qualidade MÍNIMA, exige aí uma câmera de no mínimo 8 mil reais, se for como 90% de hoje em dia, são as câmeras fotográficas da nova geração canon/nikon, que gastam mais uns 3 mil reais com adaptações para filmagem, uma iluminação de no mínimo 5 mil reais, mais toda estrutura elétrica, equipe, totalizo uns 20 mil reais de investimento, MÍNIMOS! Então, se essa pessoa que investiu esses mínimos 20 mil reais, sem contar sua profissionalização, jogando baixo o menor curso de direção de cinema que conheço custa mil reais por mês durante dois anos - mais 24 mil - . Essa pessoa, que gastou aí seus 44 mil reais e espera fazer um filme, ser reconhecido, ganhar prêmios, dinheiro, essa pessoa se acha no direito de chamar atores para trabalhar sem um cachê mínimo? De graça?
 Me pergunto muitas vezes se as pessoas pensam que ser ator é como mágica - acontece do nada - pois parece muito insignificante o Ator para o resto do mundo, o ator não deve ter estudado, gastado seu dinheiro com sua profissionalização e aprofundamento em mais e mais oficinas, cursos, porque ninguém quer pagar o ator, é incrível isso!!! As "produtoras independentes" lembram de pagar todo mundo, faxineira, iluminador, contra-regra, cabelereiro, mas nunca o ator, o ator não precisa ser pago, imagine!
 Mas também não posso ausentar a culpa por parte dos nossos, tenho amigos e mais amigos que simplesmente aceitam essa condição, e como já citei uma vez no blog, vendidos que cada vez mais prostituem nossa arte, porque até onde eu sei eu dou um duro danado para pagar todos meus cursos e nada me veio de graça, assim como todos meus colegas. 
 Aí me vejo entre a cruz e a espada, pois sei que de minha parte não aceito esse tipo de trabalho mas por outro lado vejo mais e mais amigos incentivando os "produtores independentes" a continuarem com tamanho abuso. Não, não exijo cachês milionários, sei da dificuldade que todos passam, mas também não acredito no trabalhar de graça, como já disse, essas pessoas tiveram um gasto para estar onde estão, e 1% dos 44 mil já é suficiente, que ator não gostaria de fazer um curta por 400 reais que fosse de cachê? Muitas vezes isso salva o aluguél ou mercado que seja da pessoa. Muitas vezes, esse não chega a 10% do retorno que as produtoras tem, pois há também a tamanha falsidade do "não estamos ganhando nada com isso", mentira, hoje em dia os santos já foram canonizados e ninguém faz mais nada na boa vontade.
 Fica meu apelo aos amigos e colegas conscientes, acho que já passou da hora de nos unirmos e lutarmos contra essa condição, seria de muito valor dizer hoje um NÃO para amanhã dizer com muita alegria um SIM...

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Um Bonde Chamado Desejo - Filme

"Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee Williams, dirigido por Elia Kazan;
 Estrelado pelos maiores astros da época, Um bonde chamado desejo tem no elenco ninguém menos que Vivian Leigh e Marlon Brando protagonizando o filme. Esse filme, um dos clássicos premiados de Tennesse Williams, poderia também ser chamado de Blanche, devido a proporção que a protagonista toma no decorrer da história.
 Blanche (Vivian Leigh), uma decadente professora de Mississipi, aparece logo no início do filme indo a casa de sua irmã Stella (Kim Hunter), dando ênfase a linha que a leva ao bairro da irmã, a linha Desejo. 

 Da chegada de Blanche a casa da irmã até o final do filme, a história toda se passa no mesmo cenário, o apartamento de Stanley (Marlon Brando) e Stella, o que já me faz considerar o filme como magnífico, simplesmente admiro a capacidade e a complexidade de dramaturgos desenvolverem uma história com base em um único cenário, com no máximo duas tomadas fora, isso para mim é de uma excelência enorme quando dá certo, pois se trata do trabalho dos atores em sua essência, como se fosse no teatro, um palco, um cenário.
 O filme instiga o espectador conforme avança. Os três tipos que são apresentados: Stanley, o operário bruto que faz contrapartida a Blanche, a refinada falida e Stella, a mulher submissa, servem um de combustível dramático ao outro, cada ato de um reverbera nos demais e cria consequências que levam a silêncios ou brigas memoráveis. Stanley e sua avidez em desmascarar Blanche e seu passado fazem com que Blanche enrole-se em suas mentiras e tropece cada vez mais, revelando sua loucura e seu anseio desesperado e infantil em conseguir um marido. Blanche por outro lado, mesmo sabendo do perigo que corre ao lado de Stanley, parece dar corda para suas investigações, sugerindo um interesse quase que sexual nele, visto que ela o toca em diversas vezes.
 Blanche parece não ter uma personalidade, mas sim dissimular várias. Quando é tocada a fundo todas suas máscaras caem e vemos uma mulher sem persona, um ser vazio que justifica seus atos através de lembranças, nem sempre verdadeiras, um caso interessante de uma complexidade psicológica violenta.
 Stanley, ou pelo menos o Stanley de Marlon Brando, é único, de uma mesma faceta que parece insistir durante o filme todo, sua raiva impera durante todo o tempo e seus caminhos sempre acabam em gritos e discussões. Sua complexidade psicológica talvez seja a menor dos três, seu caminho de pensamento após os 3 primeiros segundos está ligado a seus braços e a quebrar coisas, é assim o filme inteiro.
 Quando o filme se encerra, na hora em que o responsável pela internação de Blanche chega e se apresenta a ela, ela parece desferir mais uma de suas  pérolas, uma definitiva que ataca a nós mesmos, assim como aos personagens que a "ampararam" no começo da história, "Nunca duvidei da benfeitoria de estranhos", e nisso ela segue de braço dado com um estranho total a ela, mas que parece representar um bem maior do que sua própria irmã e todos que a receberam lhe deram, que parece representar maior carinho e afeto que teve desde que largou Belle Reve, que parece ser o que nós mesmos chamamos de auto-ajuda, consciência, o que nos tira do ponto zero e nos leva para algum lugar, mesmo que não seja esse o melhor, mesmo no auge de sua demência, Blanche não perde a pose e sai como quem iria viajar pelas ilhas do Caribe, de cabeça erguida e na pose. 

 Blanche é tão forte no filme, que mesmo depois que ele acaba ela continua na nossa cabeça, parece nos intrigar sobre seu fim, qual foi? Como se sucedeu? A que nível chegou a demente que talvez nem fosse tão demente assim, mas sim carente. Blanche tem várias faces, quanto mais a conhecemos mais faces ela nos mostra, seus olhos parecem ser um baú de segredos, um poço sem fundo... Talvez seja até essa a mensagem dos 3 personagens chave do filme, a necessidade de compreensão que falta a indivíduos atingidos pela marginalidade, violência, solidão, homossexualismo e o inconformismo pela realidade, fato esse que beirou a vida do autor Tennessee Williams a vida toda, acredito inclusive que o Stanley que vemos aqui seja um auto-retrato de seu pai, assim como a Blanche seria o da sua irmã esquizofrênica Rose, a qual Tennesse era fortemente ligado e inspirou outros personagens que ele veio a criar.
 A maestria de milhares de mulheres a uma só: Blanche Dubois! O filme é dela, sem dúvidas!

2011

 E mais um ano se inicia! Seguido de um conturbado mas produtivo 2010, quero dar as boas vindas a 2011, que já começou tumultuado para mim, mas nada que assuste.
 Nesse ano quero viver mais conforme eu penso, já ví que seguir as fórmulas perfeitas ou as idéias feitas não dá muito certo comigo, parece que funciono ao contrário do sistema, então, hora de girar no anti-horário! Fico super feliz pelas conquistas de 2010, apesar de serem de pequeno ou médio porte, foram significativas. Acredito que esse ano será ainda melhor, consegui estabelecer um padrão para minhas próximas postagens, para que elas possam quem sabe se igualar as primeiras, quando criei o blog, e as quais me orgulho até hoje, pois já foram motivos de muitas participações especiais em TCC's, convite para Juri de festival de teatro e de grandes elogios, então por que não seguir naquele caminho não é?
 Esse ano miro mil projetos ao mesmo tempo, mas com todo carinho necessário, como se fossem únicos, e são, mas vão caminhar juntos, e todos num nível excelente.  Aprendi que fazer tudo sozinho é um pouco egoísta, quero tentar diferente esse ano! Quero trabalhar feliz, trabalhar com os amigos, dividir o sucesso e o fracasso com os colegas, construir junto para que no fim do ano possa olhar para trás e ver que comecei a escrever uma história da qual não me arrependo e que me é motivo de orgulho.
 Amigos colegas do teatro, vamos criar, atuar, viver! Amigos roteiristas, fica aqui meu convite, preciso de uma história fantástica para um filme fantástico! Preciso de toda colaboração vinda de boa vontade, porque não criar um grupo, uma família?! Tenho mil idéias e gostaria de dividí-las e concretizá-las, fica aqui o meu pedido.
 Que esse 2011 seja motivo de muito orgulho a todos! Sucesso, MERDA!