quarta-feira, 17 de março de 2010

As Troianas - Vozes Da Guerra

"As Troianas - Vozes Da Guerra", livremente inspirada na peça "As Troianas" de Eurípedes, dirigida por Zé Henrique de Paula.

 Tive a oportunidade de ir ao Festival Ibero-Americano de Teatro semana passada e ver várias pérolas do teatro sul-americano e entre elas estava essa magnífica peça! "As Troianas" nos dá um paralelo entre a Guerra de Tróia e a Segunda Guerra Mundial de um modo muito diferente do rotineiro: um trabalho excepcional de corpo e um texto em ALEMÃO. É incrível como o não entendimento auditivo do texto não atrapalha em nada no entendimento da peça. Temos uma carga dramática muito bem trabalhada, uma história já conhecida e uma execução muito bem elaborada.
 Na peça vemos a história de um grupo de mulheres judias que são transportadas para um campo de concentração alemão e lá passam pelos piores sofrimentos do ser humano, desde o descaso até a privação dos direitos mais primitivos. As situações de cena são muito complexas - os atores praticamente não saem de cena um minuto - nos fazem refletir se há alguma esperança em um campo de concentração, a dor da opressão e crueldade das pessoas que tem o poder, o que é muito atual, infelizmente.  
 Existem vários fatores diferenciais da peça - além do texto em alemão - as mulheres troianas comunicam-se quase que todas as vezes pelo canto, quase sempre tristes, mas tambem a situação não permite outro estilo. Outra proposta muito difícil e que foi bem trabalhada na peça é a presença de uma criança em cena, temos uma criança vivendo a situação real, nada infantilizado ou ridículo como vemos em infantis e sim super dramático, a ponto da criança representar o filho de Heitor, o último dos troianos, ser morta para simbolizar o fim dos guerreiros troianos e termos seu corpo em cena caído enrolado em panos, inerte da morte até o fim da peça, difícil isso para uma criança.
 Dou os meus mais sinceros parabéns aos atores, pois na ocasião que assisti um ignorante levantou-se da platéia e reclamou DIRETAMENTE em alto e bom tom aos atores pelo texto ser em alemão e os mesmos continuaram a execução de cena como se nada tivesse acontecido, não moveram um olhar que fosse. Isso foi uma das coisas que me fez sentir mal naquele dia, me irrita ver como temos a arte desvalorizada no Brasil, sendo o festival todo gratuito e mal aproveitado por parte do público, enquanto temos jogos de futebol a valores altíssimos, é triste ver a ignorância de um povo que não pensa no seu futuro e em um crescimento cultural. Acrescento a minha crítica aos colegas da minha escola, a qual é uma das escolas de maior nível aquisitivo de alunos de São Paulo e que os mesmos tem condição de frequentarem teatros, cinemas e não levam a sério o que dizem ser a sua futura profissão, porém na madrugada anterior estavam todos no "Gambiarra" fazendo a festa. É um descaso enorme, afinal, fama se ganha, mas sem talento, esforço e comprometimento, não se sustenta...

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