sexta-feira, 5 de março de 2010

A Fita Branca

 "A Fita Branca", de Michael Haneke.
 Tive a recomendação de um amigo para ver esse filme e posso lhes dizer que me espantei e muito.
 A Fita Branca é um filme que impressiona em vários aspectos, ele intriga, assusta, joga idéias aos montes, de modo que o espectador mal tem tempo de juntá-las e compreender o sentido do filme. Logo no início na primeira narração já nos dão um dado importante - o que acontecerá naquele vilarejo, no início do século, seria de extrema importância para o entendimento do que aconteceria na Alemanha anos depois - ou seja, o nazismo, o holocausto.
 Mas o interessante é que o filme não cai no sentido documentário, ele procura explicar o modo de vida da época do outro lado da moeda, invés de serem contados, os fatos são vividos: início de século, um vilarejo pequeno com um barão que emprega metade da cidade, cultura opressora dos pais aos filhos, um autoritarismo extremo e uma sequência de eventos cruéis que ocorrem misteriosamente e causam medo na população local.
 Vemos no filme a vida de cinco famílias, do Barão, do Pastor, do Administrador, do Médico e de um Camponês, isso além dos personagens-chave que não podemos chamar de família por estrutura, mas formam as suas respectivas famílias também. O nome do filme deriva de uma fita branca que o Pastor amarra no braço de seus filhos, após açoitá-los por terem aprontado e comprometido a confiança que o pai lhes depositou, a fita branca significa pureza, que eles após o castigo voltariam a ser puros e usariam a fita amarrada consigo para sempre lembrarem-se do castigo e que agora eram puros. Assim como na família do Pastor, nas demais famílias os pais são muitíssimos agressivos e repreendem os filhos sempre de maneiras brutais, o que gera um sentimento de revolta incubado que mais tarde se entende, sendo que as crianças locais acabam por ser as principais suspeitas dos crimes ocorridos.
 Com as informações que temos no filme conseguimos entender o porque daquela geração de crianças mais tarde terem abraçado Hitler como seu pai, terem seguido seus ideais e feito tudo que fizeram, era a hora de aparecer os sintomas provocados por toda aquela revolta incubada anos atrás.
 Acho interessante também a resposta do diretor Michael Haneke quando falaram que o filme era um relato sobre o holocausto e o nazismo, sendo que essa interpretação em partes é errônea, o filme é um relato sobre o momento anterior, a crise e o autoritarismo extremo, após lermos a resposta podemos entender que o filme poderia ser feito sobre os dias de hoje.
“Não ficaria feliz se esse filme fosse visto como um filme sobre um problema alemão, sobre o nazismo. Este é um exemplo, mas significa mais que isso. É um filme sobre as raízes do mal. É sobre um grupo de crianças, que são doutrinadas com alguns ideais e se tornam juízes dos outros – justamente daqueles que empurraram aquela ideologia goela abaixo deles. Se você constrói uma idéia de uma forma absoluta, ela vira uma ideologia. E isso ajuda àqueles que não têm possibilidade alguma de se defender de seguir essa ideologia como uma forma de escapar da própria miséria. E este não é um problema só do fascismo da direita. Também vale para o fascismo da esquerda e para o fascismo religioso. Você poderia fazer o mesmo filme – de uma forma totalmente diferente, é claro – sobre os islâmicos de hoje. Sempre há alguém em uma situação de grande aflição que vê a oportunidade, através da ideologia, para se vingar, se livrar do sofrimento e consertar a vida. Em nome de uma idéia bonita você pode virar um assassino.”
 Entenderam? Pois é, A Fita Branca faz pensar! Bom final de semana.

0 comentários:

Postar um comentário