terça-feira, 9 de março de 2010

O Ensaio

 "O Ensaio", de Jean Anouilh.

 Me decepcionei ao ver esse espetáculo, sinceramente nem sei como abordar o mesmo pois só de lembrar já me desanima. Tive a indicação de um professor que considero um mestre e acolho sua palavra como verdade absoluta, ele me indicou essa peça pois me disse se tratar de um bom trabalho do Tapa abordando um importante dramaturgo francês e não os autores que costumam retratar, além de nunca ter sido montado no país.
 Porém o que tive foi uma verdadeira sequência de choques, confesso que uns até bons, mas outros horríveis! Um grupo como o Tapa, que tem uma história de respeito e um público já conquistado não se pode dar ao luxo de cometer certos erros como os que irei comentar.
 Nunca ví uma peça começar, parar sua execução por um contra-regras e ser reiniciada, ainda por cima dentro de um texto não contemporâneo no qual um ator em específico tentou fazer piadinhas para "aliviar" o clima, mas de nada adiantou. Não culpo o ator, nessa hora temos que tentar de tudo, não dá para deixar passar como se fosse despercebido tamanho erro. Mas uma coisa me irritou ainda mais - uma coisa que um amigo e praticamente meu mestre e exemplo me disse uma vez e é o seguinte: "Nós, atores, nos damos o nosso TAMANHO, a magnitude do nosso trabalho, o que criamos, vivemos e lutamos tem a proporção que nós mesmos damos.", e podem me chamar do que for, obcecado, sacana, mas quando me surge uma oportunidade procuro fazer o meu melhor, principalmente se valer algo como um papel, o que é uma substituição temporária pode vir a ser fixa! A culpa não é sua se as pessoas não levam a sério seu trabalho e lhe deixaram escapar a oportunidade pelas mãos - e foi bem isso que ví em outra personagem, uma atriz que só depois do fim da peça fui saber que estava de stand-in, trabalhava digamos que bem, mas errava demais! Chegou a confundir nomes e chamar a partner de cena pelo nome da sua própria personagem! Tudo bem, lá vão os puritanos falar que o Vinicius é babaca e não poupa comentários críticos, mas os racionais hão de convencionar comigo que a vida funciona como disse anteriormente, era a chance da mesma de fazer o seu melhor e pegar o papel, garantir o seu espaço! 
 Mas também houveram surpresas boas, nunca tinha visto uma peça no formato de arena, com o público em todos lados do teatro, isso foi uma experiência interessantíssima. Outro trabalho que merece destaque é o do ator que interpreta o personagem Héroi, o bêbado, seu trabalho está excepcional, não cai em estereótipos e tem uma linha crescente invejável.
 Quanto a história, é a mais pura verdade, o texto é uma obra-prima, por ter sido escrito há muito tempo atrás e identificar problemas que vemos até hoje, a ilusão do amor e da paixão pelos mais novos e a astúcia dos mais velhos, o desejo de "carne fresca", de juventude e todos seus caminhos de conquista e sedução. A aceitação do desejo sexual fora da relação, a procura por esse mesmo sem toda dramaticidade e tragédia das antigas "Lavagens de Honra".
 Enfim, texto bem interessante, não desmereço o Tapa por levar em conta todos outros espetáculos que assisti deles, mas vejo como um sinal amarelo, pois tão rápido quanto o público ama uma companhia ele pode também odiá-la. 
 Boa semana!

1 comentários:

Sr. T disse...

Esteja sempre preparado, a oportunidade as vezes passa apenas uma vez e nunca avisa quando vem.

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