sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Anticristo

Anticristo, de Lars Von Trier. 
 
É um filme complicado, não dá pra começar sem esclarecer isso! Um filme que gerou um furor gigantesco, comentários e matérias, cria uma expectativa gigante pra quem ainda não viu... Aí mora o problema: o filme não corresponde às expectativas, mas sim um estudo sobre o seu contexto.
Ouvi muitos relatos sobre o filme mais polêmico do ano, um ótimo suspense, um ótimo terror, mas o que vi foi uma série de exageros e enigmas, encima de um tema, esse sim, muito polêmico.   
Acabei por dividir a opinião em duas partes, técnica e contextual.
A parte contextual é incrível, quanto mais você discute mais cria possibilidades sobre a história, quanto mais analiso a idéia de anticristo, cristianismo, idealismo, mais hipóteses iam surgindo. É interessante o filme tratar da inquisição, sobre a natureza e sua maldade, o modo como a mulher se auto-flagelava para se redimir dos pecados, até aceitar que a natureza é má, esquecer os princípios mesmo que por um pequeno período, aceitá-los, sentir-se curada e voltar a paranóia cristã de sofra para alcançar a paz novamente. O significado da bruxaria, sobre a qual a mulher formulou sua tese. Se entendermos esses símbolos conseguimos entender um pouco da base da história, o veado com o filho morto seria o animal caça, medroso, sensível, que foge, como a mulher em um senso geral, e interrompido pois tem seu filho morto meio-nascido. O legal desses três fatores é que cada um antecede um medo a ser superado, nesse caso a fêmea e seu filho morto, que no capítulo posterior será superado. A natureza auto-destrutiva é o que se explica no próprio filme, a totalidade, a natureza que cria a vida e a destrói a partir de si mesmo, por isso da raposa, um animal carnívoro, comendo a si mesmo. Essa visão se liga a descoberta do marido sobre os estudos da mulher, bruxaria e genocídio. Essa por sua vez por lidar ao mesmo tempo com esses estudos e com o abandono do marido, começou a deixar aflorar em si mesma a “natureza má” das mulheres e aí começa a maltratar o próprio filho, isso significava para ela a totalidade da natureza, a causa da maldade que se fazia as mulheres naquela época estava nelas mesmas. Aí entra uma dúvida, se os maltratos ao garoto eram um modo de descontar o sentimento de abandono e destruir-se a si mesma ou uma mulher de natureza má dando o troco ao lado masculino do marido por meio do filho. Já o corvo tem a meu ver o homem, o homem nada mais é do que o Adão da história, o grande EU que estava no topo da pirâmide, a razão, ou seja, o corvo significa o auto relacionar-se consigo mesmo, para entendê-lo precisei recorrer ao poema de Edgar Allan Poe: “Ele experimenta um prazer frenético em modelar de tal formas seus questionamentos para que receba do esperado “Nunca-mais” o mais delicioso, porque o mais intolerável, dos sofrimentos.”, e era justamente o que o homem queria ouvir quando o corvo apareceu pela primeira vez, nunca mais, ele queria a fuga da mulher, que ele amava mas temia, ela era o seu contraponto, a sua falta de razão e natureza assassina, mas ele entendeu a primeira aparição como ameaça, somente na segunda é que ele compreendeu seu significado, se auto-relacionou e libertou-se de sua inconsciência assassina, a mulher. Num resumo, em primeiro lugar os gritos do corvo são o motivo de quase a inconsciência assassinar o homem, em segundo são o motivo de o homem assassinar a inconsciência. Quanto mais se analisa mais se vê o homem como o anticristo, ao contrário da primeira opinião que num consenso geral é a mulher.
Porém na parte técnica não consigo ter uma classificação pessoal específica para o filme, pois o que vi foi uma série de truques para chegar a um efeito, como se criassem um filme estereótipo... Divisão de capítulos, prólogo, epílogo, morte, dor, pra que tudo isso? Pra mostrar que o filme é sofrido, pesado? Acho que se fosse bom, não precisaria, nunca vi um “O Exorcista” com prólogos, epílogos e divisões assim. Até o trabalho dos atores, o qual deu a atriz Charlotte Gainsbourg o prêmio de melhor atriz em Cannes, não me contentou, gostei de ver pontos que trabalhamos na montagem de personagens, como o invisível, que lhe ajudou a fazer a personagem tão sofrida quanto era, a buscar algo que lhe concebesse tamanha dor. E o ponto de criar muitas coisas distantes, como um professor meu falou, coisas inverossímeis, como a hora que o ator Willem Dafoe desmaia após teu seus órgãos baixos esmagados, uma situação de desmaio, com certeza, mas não a tamanho ponto que ele teria sua perna perfurada pouco depois, parafusada a uma pedra de afiar e não acordaria gritando ou entraria em convulsão por estado de choque, isso sem contar à hora que Charlotte corta seu clitóris, extremamente simples, como cortar uma unha pelo jeito...
Acho que não teria como analisar um lado e deixar o outro de fora, pois a idéia foi muito bem formulada, talvez o modo como foi expressado não tenha sido tão bem pensado, ou tenha sido bem pensado demais para fazer as pessoas chegarem a um ponto como este que fiz, um estudo encima do mesmo.

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